domingo, 13 de março de 2011

Juca Bala e Átila.

Bem, é uma longa história. Duas, na verdade, que se entrelaçaram com a minha...vou tentar ser breve.
Quando voltei de Santo André para Itanhaém, disse que uma vez tendo optado por morar em casa, eu queria ter um cachorro. Mas não um cachorro qualquer. Disse ao Ed que queria adotar o cachorro mais feio, torto, fedorento, "craquento e remelento", o mais repugnante de todos, aquele que ninguém jamais quereria chegar perto.
Era meio brincadeira, afinal já tínhamos dez gatos, mas se um dia resolvêssemos adotar, assim é que eu queria o meu cachorro.
No dia da mudança, quando saímos do ap alugado até encontrar uma casa para comprar, aparece um filhotinho na chuva, meio cambaleando, na portaria do prédio. Estava escuro....falei com minha mãe e recolhi. Era uma menina. Levei para a casa dela. Dei banho, alimentamos e no dia seguinte amanheci na vet...
bem...tinha piolhos, desnutrição, fungo, vermes, infecção na pele, e não soubemos ao certo se as feridas eram sarna, ou decorrentes dos piolhos....
A pequena ia chamar "joaninha", escolha feita pela minha sobrinha Maria.
Minha mãe passou apenas uma noite com ela e concluiu que era terrível demais. Não a quis....
O Ed então me disse: você não queria um cachorro feio??? Olha aí. Conseguiu.
Tratamos aquela pequena coisinha terrível (por que será que todos os meus bichos são terríveis e sequelados??? todo animal parece com o dono??? será isso??hihihihi)
Ela não poderia mais chamar joaninha, absolutamente. Não parava quieta nunca. "Juca Bala". Eu sei que é nome de menino, mas não poderia ser outro!!!!
Um dos requisitos básicos para a compra da casa, era não haver nas redondezas nenhum animal abandonado, faminto ou moribundo....já eram dez gatos e um cachorro maluco, putz....

Entre tantas, finalmente me encantei por uma. Achei que tinha o tamanho certo para abrigar a todos nós, o Ed podia comprar, então viemos vê-la três vezes, em dias e horários diferentes, para ter absoluta certeza que não havia nenhum animal sofrendo na rua. Não havia.
Fiquei feliz e o Ed comprou a casa.


Um belo dia (na verdade era noite), visitamos a casa e íamos voltando felizes com a mudança próxima e o término da procura angustiante. Nossa rua é cercada pela Mata atlântica, cheia de flores e toda perfumada....
Um cachorro me chamou a atenção lá na frente....ele andava meio torto.
Uma hora gritou e correu...não tinha ninguém perto, mas ele gritou como se tivesse sido chutado e correu para o lado. Achei estranho e fiquei meio apavorada. Achei que estivesse doente....


Acabamos passando por ele. Estava escuro, mas mesmo asim deu prá notar que tinha alguma coisa horrível na cabeça. Fiquei horrorizada e voltei pro ap chorando, o Ed passado, putz, não queríamos nenhum sofrimento por perto e aquilo me pareceu pior do que tudo que já tinha visto....


Nossa casinha precisou de alguns reparos e a mudança demorou alguns dias. Não vi mais o cachorro. Achei que algo tão terível ja o teria matado, fosse lá o que fosse.

Mas não....o vi mais algumas vezes, de longe, logo sumia de novo pelo mato...que tristeza....


Uma bela tarde, enquanto voltava, ele apareceu ao meu lado, assim do nada. Meu Deus, era muito pior....ele andava com a cabeça pendendo para o lado, pingando, e ficou me olhando. Parei, ele também parou. Andei novamente e ele me acompanhou. Parei, novamente ele parou. Voltei a andar, ele seguiu ao meu lado.
Aí foi só desespero.

Vi uma senhorinha no jardim de uma casa e perguntei se o tinha visto, se tinha dono, por que estava daquele jeito....

Fui informada que tinha dono sim, e que estava daquele jeito há muito tempo, teve uma briga com outro cachorro, e a ferida atraiu moscas....bem, não há necessidade de explicar os detalhes mais chocantes. Ela dava água e comida a ele, assim como aos outros famintos da rua, todos com dono, por incrível que pareça....

Comecei a alimentá-lo, procurei o veterinário próximo (para o desespero do Ed, pobre Ed....) e com, a ajuda daquela senhorinha que é hoje minha grande, grande amiga, começamos a tratá-lo.

Dona Eunice, só generosidade.Chorei tanto no seu portão... Conseguiu uma casa vazia onde ele pôde fica durante o tratamento, e cuidou de sua alimentação por meses. Eu fazia e levava patê de fígado e salsicha, e ela fazia seu pratinho com ração, frango e molhinho, além de leite, pão e o patê, ele estava extremamente magro e desnutrido, toda a proteína e carboidrato foram necessários e bem vindos!!!!Jamais terei agradecido o suficiente, por tudo, pela amizade, pelos conselhos, pelos cuidados quando preciso, pelos "bolinhos mágicos" e deliciosos.....tem coisas que a gente leva para sempre....as verdadeiras riquezas da vida.

Foram meses de tratamento, quatro anestesias, uma plástica para tentar deixar sua orelhinha em pé, (foi inútil, ele "destruiu a plástica...), 44 dias de "omeprazol" pela manhã para o estômago, e cefalexina de doze em doze horas....depois mais dezesseis dias de outro antibiótico uma vez ao dia....

Além de Capstar para manter o machucado livre de moscas.

Durante todo esse tratamento, várias pessoas me fizeram redimensionar o conceito de GENEROSIDADE...

O Ed, que aguenta as minhas maluquices, e me acompanhou durante o tratamento, quantas noites chuvosas e geladas de inverno foi comigo à casa para levar o remédio que ele tinha que tomar na hora certa...quantas vezes o Átila avançou nele pelo simples fato de vir na minha direção??? Hoje se tornaram grandes amigos, mas foi um longo caminho...Fora a toalha felpuda novinha, as correrias atrás de fígado para o patê, todas as vezes que me consolou quando chorei, affffffffffff...e concordou em ficar com ele, mesmo nunca tendo feito parte dos seus planos ter um cachorro, quanto mais dois...Ed, você é muito melhor do que eu poderia imaginar que um ser humano tivesse a capacidade de ser...

Meus tios Geni e Hélio, que prontamente me mandaram 14 comprimidos de "Capstar" que eu não podia comprar (sabe quanto custa "um"????) para que pudesse tratá-lo....

Os donos das três casas onde ele ficou, especialmente a Jane e sua família, que uma bela noite de chuva chegaram de São Paulo e não puderam entrar em casa porque o Átila não deixou....tive que ir correndo tira-lo...putz....

Minha família que me aguentou "arrancando os cabelos" de preocupação, especialmente o Sr. Wilson, meu "pai cover", pelo conserto do portão que o Átila quase arrancou de uma das casas onde ficou...


E finalmente o Doutor João. Infinitas bondade, competência e generosidade. Sem ele nada teria sido possível. Prontamente veio do seu consultório (nenhum outro vet quis vir vê-lo....tratar então, nem pensar....),e cuidou dele com uma dedicação que só os bons de coração tem.Fazia visitas diárias, trazia salsicha, correu risco de ser mordido tantas vezes, foi incansável no tratamento, e na paciência comigo também, jamais poderei agradecer o suficiente.
Eu vivo esbarrando em anjos disfarçados de gente...

Era assim que ele andava pela rua. Com um fio amarrado no pescoço e gritando de dor as vezes. Soube que ficou nessas condições lamentáveis por cinco meses. A data mais antiga que souberam me precisar. Quem teria tanta vontade de viver???? Esse cachorro antes de tudo é um forte, um sobrevivente. Teve três donos, nem tenho idéia de por quantos e quais tipos de maus tratos sofreu...

A idéia inicial era tratá-lo de devolver ao dono....mas quando ficou bom, não queria mais ficar com quem não cuidou dele, não alimentou, não o quis perto por causa do aspecto terrível de suas feridas ou do mau cheiro....atacou o rapaz com uma fúria que nunca tinha visto de perto antes...seu ex dono não pôde sequer se aproximar, e até hoje se o vir, ele fica totalmente enlouquecido de fúria.
Foi assim então que consegui finalmente o cachorro mais feio, torto, fedorento, "craquento e remelento", o mais repugnante de todos, aquele que ninguém jamais quereria chegar perto, hihihihihi....ele é meu amigo, embora eu saiba que ele tem seus traumas. Não posso chegar perto com qualquer tipo de medicamento, algodão, gaze, nem mesmo papel higiênico....a herança que nos foi deixada por tantos maus tratos e tanta dor. Ficou lindo, é normalmente dócil, aprendeu a roer ossinhos, abanar o rabo, sentar, mas é um animal intratável, o único jeito de tratá-lo seja lá do que for é "laçando" com o cabo de aço e anestesiando....achei que ele ia brigar com a Juca Bala, trazê-lo para cá foi tenso...mas se tornaram amigos inseparáveis!!!!
Assim foram nossas histórias. Assim ganhamos novos amigos, e eles, hoje são lindos, terão uma vida feliz e confortável pelo resto de seus dias. Serão amados e bem alimentados, terão carinho e atenção. Não importa como suas histórias começaram. Os dias de abandono ficaram para trás. Quem ganhou mais com isso??? Ah, acho que fomos eu e o Ed. Apesar do sacrifício, preocupação, gastos, somos amados incondicionalmente, e isso compensa todo o esforço....

A roupinha ela ganhou da Dona Iracema, a sua "dinda", nossa vizinha querida, eu a adoro, e pequena terrível Juca Bala só está viva por causa dela....ia se enforcando no varal (ela adora arrancar a roupa do varal), eu não estava....a dinda pulou o muro e a salvou...mais anjos....temos mesmo muita, muita sorte!!!!


Não parece um lugar perfeito para roer ossinhos??? O Ed é dj....esses são alguns dos seus vinis....putz...

A bolinha também foi presente da dinda....ela adora, as vezes a gente joga muito tempo prá ver se ela cansa e sossega um pouco.....eu canso, o Ed cansa e ela continua!!! Graças a Deus, sinal que tem saúde...

Ela não é linda??????


Olha só a diferença que comida, carinho e cuidados podem fazer....



Suas patinhas eram tortinhas por causa da desnutrição....por sorte se recuperou bem.


Juca Bala, desde muito pequena não pode ver uma câmera, que já logo faz pose, hihihihi...ela é linda!!!


Bem, eu tentei ser breve...obviamente não consegui...E finalmente é o final da história. Feliz.
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